RECORDAR BONS MOMENTOS NOS FAZEM REFLETIR NÃO SÓ O QUE FOMOS E VIVEMOS, MAS TAMBÉM SE O QUE SOMOS REPRESENTA A REALIDADE DE NOSSAS ANGÚSTIAS. ALIMENTA NOSSAS ALMAS, REFRIGERA A ANSIEDADE PELO FUTURO E NOS FAZ AMAR, VALORIZANDO CADA MINUTO NO PRESENTE.

SEJAM BEM VINDOS!


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Domingo é dia de ir pra casa da Vó.

      Como perceberam este blog se tornou mesmo uma maneira de retirar as memórias lá do fundo de meu velho baú. Ainda não sei explicar a vocês o porquê de eu ser uma pessoa tão ligada às lembranças, parece até que não vivo o presente como deveria, mas acredito que se tenho boas lembranças, foram devido às situações presentes inesquecíveis. No futuro quero continuar a escrever sobre meu passado. Fato é que tive uma infância muito rica, observando por vários aspectos, pois lembranças temos não só de coisas boas, porém me reservo a lhes contar os momentos que me fizeram acreditar, que viver vale muito a pena.
      As primeiras recordações que me vêm a cabeça, como já contado anteriormente, são dos primeiros momentos em nossa casa nova lá na Cohab 1. Eu era muito pequeno, mas foi uma fase muito marcante e intensa. Sabem aquelas primeiras recordações que você tem da sua infância, aquelas em que você não consegue ter tanta certeza, nem muito menos os detalhes, mas consegue ter um apanhado de sensações que não sabe explicar quando sua mãe ou seus avôs começam a contar? Alguns dizem que é impossível, que devo estar inventando, mas faço o desafio a qualquer um, basta um pouco de esforço. Vamos tentar?
      Tente se lembrar do que te deixava bastante excitado nos seus possíveis três anos de idade. Seria brincar ao redor da mesa da copa com seu irmão mais velho, suas intrigas, ou acompanhar sua mãe ao retirá-lo da escola ao fim das aulas. Seriam os momentos de intensa alegria nas brincadeiras com as panelas da sua mãe ou com os cobertores colocados na sala para montar barracas com auxílio das vassouras e rodos de limpeza, ou até as brigas por um mero pedaço de doce, ou simplesmente pelo desafio em terminar a refeição primeiro. Ou até aquela visita inesperada de seus tios ou avós, se fossem com os primos, melhor ainda. Deu pra viajar um pouco e vasculhar as riquezas de seu baú?
      Mas de lá do fundo deste enorme baú, todos sabem, tem uma tradição, e das melhores de se lembrar: Final de semana é dia de ir pra casa dos Avôs!
      Claro que nossos finais de semana não se resumiam a isso, por vezes íamos visitar também outros parentes, dependendo da fase, ficávamos em casa e éramos visitados, algumas vezes no verão meu pai arriscava uma praia no litoral sul, mas na grande maioria das vezes e a que me refiro aqui, foi na minha fase de bem pequeno.
      Os sábados já eram bastante excitantes, bem cedo começava o preparo. Lembro-me que minha mãe gostava de deixar nossa casa em ordem, apesar de que tínhamos uma cadelinha poodle chamada Biúca que às vezes não ia com a gente, e quando voltávamos apesar de minha mãe enrolar os tapetes e tirar as coisas do alcance daquela danadinha, não tinha jeito, a casa bagunçava toda. Aproveitávamos bem o final de semana, costumávamos sair aos Sábados a tarde é ir primeiro à casa de minha Avó paterna Joana, nos quais costumavam ser bastante agitados por conta da grande quantidade de filhos e netos que ela tinha, era um grande encontro, costumávamos jantar lá, todos ficavam até tarde acordados, muitos tios e primos, muita diversão. Meus Avôs paternos já se foram, que Deus os tenha, esta foi uma fase de muito contato com todos da família de meu pai na qual me recordo muito bem, inclusive do caminho que fazíamos de carro. Eu era bem pequeno, mas acreditem que depois de adulto ao passar nestas ruas me recordava precisamente. Nós morávamos na zona leste de São Paulo, eles no bairro de Cidade Ademar, zona sul de São Paulo e me lembro quando passávamos na Avenida 23 de Maio, em sua descida, avistávamos o obelisco do Ibirapuera ao fundo e no lado esquerdo um restaurante no formato de um barco enorme (hoje lá existe um bingo desativado), lembro precisamente quando passávamos pelo aeroporto (pois comentávamos, tentando ver os aviões) depois pegávamos o acesso para a Avenida Vereador Vicente Rao em direção à Avenida Cupecê. Parece mentira, mas quando adulto, morei e estudei lá perto e passava nestes lugares e me recordava como se fosse um Dejavú. Eu tinha apenas cerca de três a quatro anos de idade.
      Os domingos ficavam reservados para visitar os Avôs maternos que moravam em São Bernardo do Campo, bairro do Taboão, terra natal de minha mãe, onde tenho a maioria das recordações de minha infância juntamente com os avôs no qual mantive maior contato: Dona Madalena e Sr. José. Lembro-me que na maioria das ocasiões chegávamos para o almoço, mas muitas vezes também pousamos por lá, era quando acordava cedo e ia comprar pão com meu avô, quando não dávamos uma esticada até a feira de Domingo, ele gostava muito de andar a pé, conhecia muita gente no bairro, tinha muito orgulho de mostrar os netos para todos, que Deus o tenha. Lembro dos almoços, da comida de minha avó, das caipirinhas e do vinho de galão de meu avô, sem falar nas rapaduras que não podiam faltar naquela casa. Que saudade dos Natais em família, das Páscoas, aos poucos fomos deixando de ter estes costumes e nos afastando, fomos crescendo e naturalmente nossos interesses foram mudando, sem falar em situações que acabam afastando as famílias naturalmente e que só depois de adultos acabamos compreendendo.
      Acredito que a família é a maior riqueza de toda uma sociedade, pois ela é responsável por toda esta bagagem que carregamos, sejam boas ou ruins, e desta forma acredito que todo relacionamento familiar deva ser construído sob alguns pilares que sustentarão a união por muito tempo ou senão para sempre: O respeito, a verdade e a compreensão. Depois deles facilmente virá o Amor, a confiança e o sentimento de que toda família estruturada proporciona, a segurança. Imagine uma criança que não teve este privilégio. Imagine se você não tivesse guardado em sua memória o que têm hoje, ou se suas lembranças fossem traumas. Bem não quero filosofar demais e perder o foco deste texto, pois sabemos que o caráter de todo ser humano se constrói mais ou menos desta forma. Relações falsas são prejudiciais e, em vez de nos trazer boas recordações nos causam traumas, a nós e aos nossos pequenos. É nisto que eu acredito, de tal forma que um dia, resolvi me separar depois de quase sete anos de casado, nos quais foram de muito sofrimento e desentendimento, mais quem mais sofria eram as crianças que vivenciavam uma situação diária de dor, vendo os pais discutirem sempre. Foi um trauma sem proporções para meu filho ver o pai sair de casa aos seis anos de idade, mas não se compararia aos traumas diários de ver seus pais se desrespeitando. Justamente nesta fase na qual temos tantas lembranças, hoje tento dar o máximo de mim para o meu filho, realizar coisas que nunca realizei com meu pai, fazer com ele e para ele tudo aquilo que meu pai jamais pensou em fazer para mim, dizer diariamente que o amo, lhe abraçar, lhe beijar, ensinar valores familiares, a respeitar o próximo, seja quem for. Investir tudo, tudo mesmo (claro que dentro de minhas possibilidades), a torná-lo um ser humano melhor do que eu e meu pai fomos.
      Hoje o Daniel já está com dez anos e já é quase um rapaz, é um menino muito inteligente, muito sagaz e carinhoso. Tenho muito orgulho e não sei expressar o quanto é o tamanho de meu amor por ele, sei que no fundo ele ainda sofre pela minha ausência, sempre que estamos juntos aproveitamos ao máximo, sempre tento aproveitar nosso pequeno tempo para muitas conversas, ele até me acha meio chato e rigoroso, mas sinto o quanto me ama. Jamais abrirei mão de nossos momentos, pois deles ainda terei muito que lembrar também e escrever
      É... A vida passa muito rápido. Nossos avôs se vão, agora os avôs são nossos pais, amanhã seremos nós.
      O que fica é a lembrança, seja boa ou ruim. É preciso saber viver, aproveitar, curtir, amar, não mentir e enganar. Ser feliz é impossível, pois felicidade só existe quando percebemos que um dia fomos felizes, o que existe é a busca.

      Que esta busca seja feita de boas recordações.

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