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terça-feira, 16 de agosto de 2011

A ladeira da Rua Seis

      Morar em rua de ladeira tem lá suas vantagens. Claro que analisando certos aspectos, pois morar no topo dela e ter de subi-la diariamente, incomodava um pouco. A ladeira da Rua Seis era assim. Uma bela e íngreme rua. Nós morávamos bem no topo. Fomos para lá em ocasião na qual tudo que fazíamos, era necessário descê-la. Depois haja perna na volta.
      Desde os primeiros dias na pré-escola Roberto Victor Cordeiro, aos últimos no colégio Amador Arruda Mendes; O posto de saúde também ficava lá embaixo na Avenida Silvio Torres, as idas à padaria no pequeno centro comercial em frente às ruas “Três” e “Quatro”, sem falar na grande feira livre das quintas feiras nesta mesma avenida(na foto, a "Rua Seis" se encontrando com a Av. Silvio Torres).
      Como eu gostava de ir à feira com minha mãe, lembro-me que os moradores dos prédios da Avenida Waldemar Tietz utilizavam o declive como acesso à feira. Dia de grande movimento na vulgarmente conhecida, Rua Mário Calazans Machado. Com a construção do grande mercado D’avo no topo da colina, as coisas mudaram bastante, e como. Nada mais de ir ao pequeno centro comercial, tudo era feito no grande mercado que facilitou as nossas vidas e trouxe uma grande movimentação de pessoas no pacato logradouro.
      Os sábados eram bastante movimentados, o sobe e desce de pessoas e veículos naturalmente aumentaram, mas logo nos acostumamos com a nova realidade, lembro-me que eu e meus colegas amarrávamos uma linha em uma carteira e a puxávamos quando alguém se abaixava para pegá-la, eram só gargalhadas, também fazíamos isto com palha de aço em formato de um rato, colocávamos no cano e quando as mulheres passavam ao entardecer... Só gritaria! Que saudade dessas peraltices, como minha mãe recebia reclamações.  De vez em quando aparecia uma vizinha e falava: “Olha, seu menino fica tocando as campainhas das casas, dá um jeito nesse moleque!” ou então: “Veja o que seu filho fez com minha conta de água!”. Em determinada ocasião no reveillon, coloquei um morteiro no buraco de um muro de uma senhora que morava na esquina... Acabei explodindo parte do muro. Na hora as risadas foram muitas, mas depois que ví aquela senhora limpando o entulho e se lamentando, bateu um enorme remorço... Com o passar dos anos o muro ainda estava lá com o enorme buraco. Percebi meu grave exagero. Não é a toa que meu irmão mais novo diz brincando que eu era um verdadeiro terrorista.
      Anos de Copa do mundo, era a maior festa. A rua era impecavelmente pintada com os mais lindos desenhos, as guias ficavam em verde e amarelo, assim como as bandeirinhas que se trançavam entre os postes, havia até campeonato de qual era a mais bonita, inesquecível.    
      Quem cresceu em casa térrea de rua de bairro assim como eu, nos tempos que ainda era possível permanecer nas ruas, recordará comigo algumas pérolas deste privilégio. Apesar de íngreme, jogávamos muito futebol, vôlei, sem falar nas brincadeiras de rua tão conhecidas, como Taco, Rouba bandeira, Garrafão, Mãe da rua, Queimada, Pega pega, Polícia e ladrão, Esconde-esconde... No verão ficávamos até depois da forte chuva da tarde que, naquela época vinham pontualmente por volta das 17 horas e durava não mais que uma hora, brincávamos na enxurrada forte que descia pelo caminho e nas bicas d’água que desciam como ducha dos telhados. Ficávamos até ouvir o grito de nossas mães, aos berros, elas nos recebiam completamente emporcalhados, vez em quando ralados com a tampa do dedão do pé aberta e sangrando devido às topadas que costumava dar de tanto correr na rua com os pés descalços, sem falar na roupa rasgada. Minha mãe dizia: “Vai direto pro chuveiro!” E tome algumas cintadas...
       Quem pensou que eu ia me esquecer de uma das principais brincadeiras de uma rua de ladeira se enganou. Imagine uma rampa asfaltada com cerca de duzentos metros pra se esbaldar na descida.  Adivinharam? Ficou fácil! Os primeiros carros de rolimã foram feitos pelo meu pai, até freio colocava neles, aos poucos iam aparecendo mais meninos com seus carros cada vez mais customizados, tirávamos aqueles rachas, quando não fazíamos um enorme trenzinho conectando um carrinho ao outro. Era de certa forma, perigoso, pois atingíamos muita velocidade e quando nos arrebentávamos era pra valer. Vinha gente de todo lugar, as ruas vizinhas também eram ladeiras lá nas casas da Cohab 1 (veja na foto, todas as ruas inclinadas desembocavam na Avenida Silvio Torres) mas a da rua Seis era a mais íngreme e emocionante. Minha nossa! Como fazíamos barulho; Aos finais de semana, ninguém conseguia assistir televisão e às vezes éramos recebidos com baldes d’água ao passar em frente às residências, a brincadeira só acabava mesmo quando alguém perdia uma unha ou fazia algum machucado mais feio. Aos poucos com a vinda dos Skates e a melhora da condição financeira com as bicicletas fomos deixando de lado nossos rolimãs, lembro que até já adolescente, tinha o meu lá em casa todo enferrujado e sem uso, acabou sendo desmontado e jogado fora pela minha mãe.
       Felicidade na minha infância foi não ter conhecido o Playstation, (apesar de ter vivenciado o sucesso  e início do ATARI) o computador, o DVD, o Blue Ray, o Ipod, o celular, o MSN, o Face Book, o Twitter... Ainda nos perguntamos: “Como conseguíamos viver sem estas maravilhas?” A resposta?
      Viver era uma maravilha;
      Ser criança era uma maravilha, uma dádiva divina.
     Nossas exigências eram outras, éramos muito felizes com muito pouco.
      Talvez por isso eu viva de tanta nostalgia. Parte desta criança ainda está dentro de mim, apenas ofuscada entre teclas e telas que, aproximam os distantes e inegavelmente distanciam os mais próximos. Criança ainda capaz de se maravilhar com as lembranças da simplicidade e felicidade dos irmãos e meninos da Rua Seis.    

3 comentários:

  1. Ola Rodrigo....
    Muito legal seus dizeres e palavras....tive o previlégio de ser a 3ª família ha mudar-se para a Cohab em 1978....posso dizer que fiz tdo isto e mais alguma coisa .....AMO este lugar aonde moro até hoje...não o troco por lugar algum....eu vendia pãp e leite na perua que passava nas manhas qdo ainda não existia o centro comercial...sou tbm saudozista e gostaria de saber se possue mais fotos alem desta....

    valeu
    abs.
    Rogerio

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    1. Olá Rogério,
      Não tenho exatamente fotos como estas... apenas da infância em minha rua. Lembro das peruas que vendiam pão, leite, cigarro... Em uma ocasião quando tinha 5 anos, segui meu irmão escondido quando ele foi a uma perua para comprar pão que estava na avenida Waldemar Tietz. Atravessei a rua para seguí-lo e fui atropelado por uma motocicleta... Só acordei no hospital, rsrs. Isto é apenas mais um conto de minha vida. Mantenha contato, colega...

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    2. Esqueci de dizer,leia o texto: "Minha molequice ficou na Cohab I". Esta neste mesmo blog e conta um pouco mais sobre esta época...
      Abraço!

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